Sinopse

Ela está perdida em algum lugar, engavetando cartas e sonhos para quando o dia chegar. Nos limites do horizonte, porém, encontra outra como ela, igualmente perdida, e se apaixona. Tudo que acontece naquela casa da praia então, seja apenas um sonho ou a vida, é a revelação do sentimento esquecido entre cartas tristes engolidas pelo oceano, um sentimento que mesmo afogado em lágrimas salgadas, como a água do mar, é belo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Início

A casa da praia não era apenas minha casa, ou meu lar. Era meu refúgio. Eu poderia ficar ali na mais forte tempestade, no dia mais frio, que ficaria bem. Não era apenas um lar físico, era na verdade, completamente emocional. Ali vivia minha mente e ali, ela se escondia dos monstros. Ali, eu me escondia.
O vento soprava preguiçosamente meus cabelos para frente e para trás. Estava bom ficar na beira da praia naquela tarde, o sol já praticamente escondido no horizonte, deixando apenas longos raios alaranjados cruzarem os céus, formando um contorno vermelho nas nuvens, como numa pintura. O constante som das ondas quebrando me acalmava. Por isso escolhi esse lugar, não havia no mundo um lugar mais perfeito.
Sangrava meu coração de vez em quando, para o silêncio, para as coisas inanimadas. Elas ouviam pacientemente. Fazia poesias com o que tinha. As cartas e papéis eu guardava nas gavetas, deixava ali para serem esquecidas. Meu sonho era que um dia, muito depois da vida ter se esvaído de mim, alguém encontrasse essa casinha escondida e lesse todas as cartas. Não sabia o que pensariam, nem esperava causar reação alguma, mas era um sonho. O de que toda uma vida esquecida, devidamente descrita, fosse então descoberta. Mas não haveria nada para mudar ou tentar mudar, pois ela já teria encontrado seu fim. A beleza e a magia da dúvida. Teria sido diferente, caso alguém me encontrasse? Teria, mas não importa, não irá acontecer.
Terminei de escrever uma carta, essa, para o mar. Disse-lhe que o admirava, gostava do som que fazia e de como nunca se aquietava. Elogiei sua cor esverdeada. Finalizei revelando que um dia, caminharia até onde fosse possível adentro dele, deixando que me consumisse e minha vida tirasse. Eu queria morrer no mar, lá, ninguém me encontraria. Queria morrer em águas profundas.
Na verdade, um sonho distante, já tão profundo e quase esquecido, quase irrelevante, era o ter uma última dança. Não era pela companhia, mas dançar por uma última vez seria ótimo. Porém, precisaria de música, e não sei fazer boa música. Mas era um sonho que ficava no canto.
A praia vazia, a casa vazia, eu, vazia. Mas era bom, ficar sozinha. Companhia era algo esquecido, algo que eu não sentia falta. Eu tinha companhia da noite e das estrelas, já estava bom.
Eu estava bem.

Um comentário:

  1. "Sangrava meu coração de vez em quando, para o silêncio, para as coisas inanimadas. Elas ouviam pacientemente"... não consigo encontrar adjetivos pra essa história, mas me encantou. Me encantou mesmo.

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