O vento soprava preguiçosamente meus cabelos para frente e para trás. Estava bom ficar na beira da praia naquela tarde, o sol já praticamente escondido no horizonte, deixando apenas longos raios alaranjados cruzarem os céus, formando um contorno vermelho nas nuvens, como numa pintura. O constante som das ondas quebrando me acalmava. Por isso escolhi esse lugar, não havia no mundo um lugar mais perfeito.
Sangrava meu coração de vez em quando, para o silêncio, para as coisas inanimadas. Elas ouviam pacientemente. Fazia poesias com o que tinha. As cartas e papéis eu guardava nas gavetas, deixava ali para serem esquecidas. Meu sonho era que um dia, muito depois da vida ter se esvaído de mim, alguém encontrasse essa casinha escondida e lesse todas as cartas. Não sabia o que pensariam, nem esperava causar reação alguma, mas era um sonho. O de que toda uma vida esquecida, devidamente descrita, fosse então descoberta. Mas não haveria nada para mudar ou tentar mudar, pois ela já teria encontrado seu fim. A beleza e a magia da dúvida. Teria sido diferente, caso alguém me encontrasse? Teria, mas não importa, não irá acontecer.
Terminei de escrever uma carta, essa, para o mar. Disse-lhe que o admirava, gostava do som que fazia e de como nunca se aquietava. Elogiei sua cor esverdeada. Finalizei revelando que um dia, caminharia até onde fosse possível adentro dele, deixando que me consumisse e minha vida tirasse. Eu queria morrer no mar, lá, ninguém me encontraria. Queria morrer em águas profundas.
Na verdade, um sonho distante, já tão profundo e quase esquecido, quase irrelevante, era o ter uma última dança. Não era pela companhia, mas dançar por uma última vez seria ótimo. Porém, precisaria de música, e não sei fazer boa música. Mas era um sonho que ficava no canto.
A praia vazia, a casa vazia, eu, vazia. Mas era bom, ficar sozinha. Companhia era algo esquecido, algo que eu não sentia falta. Eu tinha companhia da noite e das estrelas, já estava bom.
Eu estava bem.
"Sangrava meu coração de vez em quando, para o silêncio, para as coisas inanimadas. Elas ouviam pacientemente"... não consigo encontrar adjetivos pra essa história, mas me encantou. Me encantou mesmo.
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